terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Política ou Politicagem?

“O homem é um animal político”

Aristóteles

Quando ouvimos a palavra “política”, vêm logo em nossa cabeça uma infinidade de definições – estelionato, latrocínio... –, as quais incidem diretamente na vida de todo cidadão. Mas ao contrário do que todos – inclusive eu – pensam, política não emerge pra esse lado, muito pelo contrário. E então, será realmente que existe alguma diferença entre política e politicagem? É o que veremos.

Antes de entrar em detalhes no assunto, darei a definição do nosso velho e bom amigo dicionário, que diz o seguinte:
Política é arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados. Aplicação desta arte aos negócios internos da nação (política interna) ou aos negócios externos (política externa). Já Politicagem é a política de interesses pessoais, de troca de favores, ou de realizações insignificantes.

Podemos ver então que há uma expressa diferença entre essas duas palavras. Tanto na escrita como principalmente na prática. A política está diretamente ligada à forma como um administrador – Prefeito, Presidente, ou qualquer outro – dirige seu Estado-Nação. Como saúde, educação, lazer, inclusões sociais e outras atividades obrigatórias a um “político”. Podemos dizer então que a política é o lado bom da coisa. É o ideal de uma boa administração.

Na politicagem vemos exatamente o contrário, é a utilização banalizada e grotesca da política, ou seja, utiliza-se dos meios legais e naturais para própria satisfação, sendo que a política é estritamente direcionada aos cidadãos, que por normalidade deveriam participar ativamente – não só das eleições, onde todos se esculacham pra ganhar, sendo capazes de fazer tudo pela vitória – mas também no término das eleições, com sugestões, críticas e até mesmo em vigorar no monitoramento de seus representantes – que é a principal função de um eleitor.

Para Hannah Arendt que é considerada uma das maiores pensadoras desde séculos com seu trabalho sobre as Origens do Totalitarismo. "O sentido da política é a liberdade". Segundo ela, a idéia de política e de coisa pública surge pela primeira vez na polis grega considerada o berço da democracia. O conceito de política que conhecemos nasceu na cidade grega de Atenas e está intimamente ligado à idéia de liberdade que para o grego era a própria razão de viver. Então a política nasceu para nos manter vivos, manter a ordem e promover prazer à vida do cidadão, em conformidade com seus deveres e principalmente seus direitos.

Particularmente, acho independente de quem esteja sendo candidato, há sempre por trás de sua política de promessas e soluções um montão de politicagem. Estão todos infectados com o vírus do capitalismo, do dinheiro a todo custo e da preocupação em suma com o próprio umbigo. Julgando ser democrático o que já nascera – ou virara – monárquico. Políticos que ficam em cima do muro, não sabem onde se manter. Se apóiam uns, estão de olho em outros. É uma roubalheira instantânea. Um exemplo disso é o relato de um professor que participava, como membro, de reuniões constantes entre eleitores: “Tem partido que num mesmo dia, já fez parte de três bases de coligação. Era neutro, foi pra oposição e situação. São tantas reuniões que a gente até se perde”.

Não dá pra acreditar em mais nada hoje em dia. Mas o pensamento é: Por que isso acontece? Quem é o verdadeiro culpado por isso? Somos nós eleitores? São os candidatos que não possuem calão para estar onde estão? Não é difícil perceber que tudo que está à nossa volta é resultado de nossas ações, ou seja, se colocamos o candidato “x” no poder, o nosso dever – se ele ganhar – é fazer com que ele veja que estamos interessados em saber se o que ele está fazendo é pertinente ao prometido no processo.

Assim ele perceberá que não está lidando com imaturos que não sabem nem pra quê o elegeram. O que com certeza não podemos fazer ao passar o ato de votar é baixar a cabeça e deixar que a “banda toque” naturalmente. Infelizmente é que acontece constantemente. Não vistoriamos, não participamos de reuniões pra saber como andam nossos “políticos”, se estão praticando a verdadeira e pura política ou estão nos enganando.

Também não adianta dizer que política não vale nada, e que a odeia. Referente a essa conclusão popular, o historiador inglês Arnold Toynbee conclui: “O maior castigo pra quem não gosta de política, é ser governado pelos que gostam”. É o que já esclareci acima, votar sem consciência, sem convicção do que está fazendo não é saber o seu papel, é dizer-se que está ali pra nada, que seu voto não influenciará em nada no resultado. É auto exclusão. Negligência e burrice.

Tenho dezesseis anos de idade, e no ano corrente pratiquei um ato que pra mim foi marcante: minha primeira votação. Minha primeira oportunidade de definir o futuro de minha cidade. E ao contrário do que pensava, não é realmente um mar de rosas. Era político comprando voto na porta dos colégios eleitorais, boca de urna e coisas do tipo. Uma verdadeira banalização e negação de um poder que nos é dado – dependendo da localidade e da eleição – a cada quatro anos.

Os parágrafos anteriores referentes ao descaso do eleitor na ideologia de votação resumem-se em “Analfabetos Políticos”. Que Aristóteles já apregoava na Grécia Antiga: “Um animal político”. Como retrata também Bertolt Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce à prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

Deu pra entender caro leitor, nós definimos o que irá acontecer conosco, com nossos filhos, nossos netos... Não podemos simplesmente votar, e sim VOTAR conscientemente. Se trabalharemos, se ficaremos seguros ao colocar uma sacolinha de lixo na porta de casa. Se pessoas de classe média baixa terão ou não acesso à boa qualidade de educação, ou até mesmo a gente, depende unicamente de nós. Porque os capitalistas alienistas então à solta, pronto pra agarrar mais um. Mais um “animal político”.

Depois acordamos – ou não –, sei que criticamos, julgamos. Sem saber que nós fomos responsáveis pelas conseqüências. A Professora graduada em História com extensão em pesquisa, escritora, poeta e Web máster premiada pela UNESCO critica de forma plausível a questão, jogando com as palavras: “Onde está o ideal? Cadê o pensamento em benefício do bem comum? Só vejo ANALFABETOS POLÍTICOS querendo exercer a POLITICAGEM através da POLÍTICA”. Por que será que candidatos que sabem que não serão eleitos são candidatos?

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