terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O prazer de cantar



Baseado na imagem de Pablo Picasso





Em uma cidade muito pequena no interior da Bahia vivia Luis, um rapaz forte, trabalhador, sonhador. Morava sozinho em uma casa pequena com apenas um quarto, a sala integrada à cozinha, o banheiro no exterior da casa: situação higiênica precária.Tinha um grande sonho: descobrir a profissão que mais tinha a ver consigo. Trabalhava num supermercado ali mesmo próximo à sua casa, mas sempre com o mesmo pensamento, encontrar seu ponto forte. Luis tinha 24 anos de idade que acabara de completar no ano corrente. Sua vida era sempre corrida, na maioria do tempo estava no trabalho, já tinha um bom tempo que ocupava aquele cargo e como morava sozinho não tinha muitas despesas, guardava maior parte do que recebia. Nesse mês ainda iria receber e era sempre um momento de tensão, pois esperava receber mais do que o de sempre. Muitas vezes decepcionava-se, outras, se realizava. Dez anos se passaram e já maduro com 34 anos, Luis decide largar o emprego e correr atrás do seu sonho.Já tinha um valor considerável em seu domínio, pensou então em fazer pinturas. Se inscreveu em uma escola de artes no centro da cidade. Com o passar do tempo foi se familiarizando com as figuras, fez muitos desenhos, muitas obras. Certo dia quando acabara de fazer uma paisagem, chega à sua sala uma linda moça. Ela mexeu com seu coração. Quis conhecê-la. Perguntou se podia desenhá-la. Ela respondeu sorridente que sim. Seu nome era Marília e tinha estatura jovem. Ao término da pintura, deu a ela para que contemplasse sua imagem. ela adorou, então ele perguntou o que iria fazer a noite. Disse-lhe que estaria livre. Aproveitou para convidá-la para um passeio mais tarde. Aceitando foi-se embora.Ficou muito encantado com a moça, tudo que fazia era com ela no pensamento, não conseguia parar de pensar naquele sorriso lindo, aquele corpo escultural. Nesse dia chegou em casa mais cedo, deu uma limpeza geral na casa que apesar do tamanho ficou brilhando. O relógio aponta sete horas da noite e ele sai ao encontro de Marília. Andando pela rua, vistoso, perfumado e sorridente. Afinal nunca vira tanta beleza numa pessoa só. Ao chegar à pracinha lá estava ela, deslumbrante sentada no banquinho, chegou até ela e começaram a conversar. Depois de alguns minutos de conversa já estavam extremamente íntimos, saíram e foram à uma pizzaria. Comeram. Conversaram muito e se conheceram ainda mais. Já umas nove e meia eles caminham contra o vento, calmos, pensativos, até que ele pára e fica de frente a ela:- Olha Marília, eu sei que a gente acabou de se conhecer, não sabemos tudo um do outro, mas quero te dizer que...- Eu também quero te dizer uma coisa.- O quê?- É que desde quando você me desenhou, percebi que havia me olhado diferente, posso até estar equivocada, mas o que vou fazer agora explica o que estou sentindo.Marília o agarrou e deu-lhe um longo beijo, suas mãos corriam as costas dele como um carro desgovernado. Lentamente Luis retribuía com o mesmo gesto, suas mãos desceram às pernas, subiu um pouco e apreciou suas nádegas. Se olharam por uns minutos:- Eu também estou sentindo algo forte por você, e é exatamente isso que iria fazer se você não o fizesse.Abraçaram-se saindo dali. Levou-a para casa e foi-se embora. Aquela foi a noite mais feliz de sua vida. Passados uns cinco anos já estavam morando juntos e ele havia largado a pintura, não se realizava mais com aquilo, mas foi importante para achar o amor de sua vida.Um dia ele chegou em casa às seis horas da tarde, já estava escurecendo e ela estava lavando os pratos, chegou mansamente e deu-lhe um abraço por trás, um cheiro na nuca. Ela se apoiou na pia e se arrepiou toda. Fechou os olhos e respirou profundamente, deu uma reboladinha que deixou Luis totalmente excitado. Pegou-a no colo e levou-a para o quarto onde lentamente começa a tirar sua roupa. Desabotoa a parte superior e depois a parte inferior, deixando-a completamente nua, logo depois tira toda sua roupa também e, sobre ela na cama, a noite foi cheia de fantasias.Alguns meses se passaram e ela estava grávida. Mesmo com tudo isso, Luis não deixou de correr atrás do que sempre quis: buscar o prazer. Tentou cerca de dez atividades, a última delas foi a música. Nove meses se passaram e chegou a hora de sua mulher dar a luz. Levou-a para o hospital. Estava muito tensa e nervosa. Os médicos disseram que aquele trabalho seria complicado, pois havia irregularidades com a criança que atingia a mãe. A hora do parto foi difícil tanto pra ele como para os médicos que trabalhavam na operação. Enfim o parto foi concluído e um dos médicos veio até Luis que esperava por notícias numa sala. Ele esperava ansioso para ver seu filho, mas o medico pediu que sentasse e se acalmasse. Ficou apreensivo e confuso, então foi esclarecido que sua Marília morrera no parto. Não suportara a dor e a pressão. Na mesma hora, Luis saiu correndo, chorando aos gritos em direção à sala de parto onde estava sua mulher, até que enfermeiros deteram-no alegando ser proibida a entrada de pessoas que não fossem os médicos.Dias se passaram após o enterro de sua amada. Não teve ânimo para voltar ao que fazia, cuidou do seu filho como se fosse a única coisa que existia e importava no mundo pra ele. Anos se passaram e já com a idade um pouco avançada decide voltar pra música. Seu filho já estava criado e estudando, então voltou a fazer músicas, foi criando músicas que eram cantadas pelos aprendizes da escola.Ainda tinha alguma coisa estranha no que fazia, não se sentia completamente realizado. Cantar músicas. Descobriu que tinha um talento incrível para cantar, tinha uma voz sensacional. Todos gostavam, estava aí finalmente seu sonho realizado. Ser cantor. Mas um cantor diferente dos outros, cantava com o coração, com a alma. Deixava-se levar pelas letras das músicas, beijando as cordas do violão com seus dedos, que mexiam dando um som especial à canção.Seu filho casou-se e mudou para outro Estado com sua mulher. Luis foi chamado para trabalhar no teatro como tocador de violão na mesma cidade do interior onde construiu sua vida. Fazia o papel de mendigo que tocava nas calçadas para ganhar dinheiro. Hoje compõe fora do teatro músicas românticas em especial para a mulher, sua grande aventura, Marília.
O que tentava passar para as pessoas com suas lindas letras era que buscassem – mesmo que parecesse impossível – sua felicidade. Sem pisar em ninguém. Porque apesar de tudo cada um tem um grande amor a sua espera, basta esperar o momento certo e oportuno para que se concretize. E assim viveu Luis até o fim de seus dias. Com grande dedicação, humildade e o mais importante: “o prazer no que fazia”.

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