quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O sufrágio da Globalização

Com o advento da possibilidade de abrangência de capital, alavancado no âmbito histórico do Imperialismo monopolista do capitalismo, e consequente acúmulo de lucro, países passaram a disputar mercado em escala global de forma extremamente rápida e arriscada. Dá-se a esse processo o nome de Globalização, com papel de disseminar igualitariamente conhecimento, recursos e capital.

Podemos ver a globalização com olhos positivos em sua teoria. Pois, segundo sua definição,

“o termo globalização designa um fenômeno de abertura das economias e das respectivas fronteiras em resultado do acentuado crescimento das trocas internacionais de mercadorias, da intensificação dos movimentos de capitais, da circulação de pessoas, do conhecimento e da informação de forma homogênea.”


Como vemos, na prática isso não acontece. Poderíamos ter uma participação mais efetiva de todos os países nas relações internacionais, inclusive os atualmente chamados emergentes. Mesmo que isso seja fato, devemos compreender que a globalização – pro bem ou pro mal –, envolve multidimensões, que participam ativa ou passivamente.

As desigualdades são explicitamente desenvolvidas e o sentimento de humanidade é deixado de lado. O que vale é o que uma nação tem a mim oferecer financeiramente, seja psicologicamente, seja com implantação de multinacionais por exemplo. Abordagens econômicas e não-econômicas dominam os debates acadêmicos.

Não se tem – como princípio básico da globalização –, a abrangência de tecnologias equiparadas em todo o mundo. Têm sim, tardia em países pouco desenvolvidos industrialmente e versátil em outros oligopólios e bancos globais que concentram as decisões políticas e econômicas. Característica marcante deste século capitalista, com intensificada concentração e centralização de capitais, com expressivo crescimento de filiais estrangeiras – em foco – nos países subdesenvolvidos. Por quê? Porque a mão-de-obra é muito mais barata e pode pagar a pelo menos quatro peões com valor que pagaria a apenas um no país sede (exemplo da dispersão de capitais).

É claro que a globalização não pode ser analisada apenas sob esse prisma da competitividade, mas é a que prevalece, prepondera. Pois, por trás, existem nações que mantém o pilar. Segundo Fiori[0], esse é “um erro analítico que, nesse caso, cumpre a função ideológica de reduzir o processo da globalização a um fenômeno material, tecnológico/ produtivo [...], confundindo-se intencionalmente a irreversibilidade da globalização econômica com a inevitabilidade de determinadas soluções [...]”.

Ou seja, por mais que se discuta, analise ou critique, não adianta querer uma solução se não se faz nada em prol, e pior, “sou” um dos causadores do dito “problema”. Durante o processo de globalização se percebeu uma progressiva retirada da intervenção do Estado na economia. Acontece que, para o capital, o Estado pode exercer o papel de interventor em certas trocas e/ou se tornar um forte concorrente, com regulamentação do mercado de trabalho, da política tributária, entre outros. Levando a uma predominância global das nações fortes mais ofensivas sobre as nações mais fracas.

No auge do capitalismo, fica ainda mais difícil se alcançar a igualdade. As ações e atitudes a cada dia mais e mais reforçam a submissão às exigências das principais potências mundiais. A globalização, ao mesmo tempo em que acelera os ganhos de grandes capitais, concentra e centraliza o capital. A disputa ressuscita a cada nova oportunidade de elevação, em que alguém tem que perder para alguém ganhar. Somos livres? Vivemos numa democracia? Será que realmente temos liberdade de expressão e escolha?

Para Fiori, os novos colonizadores carregam calculadoras em vez de armas. Os ternos sobrepõem às fardas. Pregam o evangelho do livre mercado, não da religião missionária. Os novos colonizadores são os grandes domadores do poder e do capital, dos países de Primeiro Mundo, liderada pelo World Bank e pelo Fundo Monetário Internacional [...] mas precisamos de organizações para estabelecer padrões. Senão países em desenvolvimento serão (são) excluídos de tudo no mundo. Como as nações “inferiores” não tem para onde correr, submetem-se. Resgatando o chamado neo-imperialismo.

Sociedade estereotipada, preconceituosa, desumana, consumista, alienada como burros de carga orientados a olhar só em uma direção. Somos nós, filhos do capitalismo, rotulados e camuflados como idiot savant[1], que compramos a felicidade de um assassino, a honra de um pai de família. A sociedade high tec[2], como define Paulo Sérgio do Carmo em seu livro O Trabalho na Economia Global.

De que servem as flores que nascem pelo caminho?[3] Se já estão infectadas pelo vírus do capitalismo? Obsolescência programada[4], esse – pra mim –, é o termo que resume a era da tecnologia e suas conseqüências negativas na vida das pessoas.

Vamos velejar num mar de lama, Desafinado coro dos contentes[5], vamos fazer com que nossa vontade prevaleça, não a que nossos pais ou amigos ensinam, pois estes também são tendenciosos, mas sim a que desenvolvemos durante nossa vida, a olho nu, sem nos apropriar negativamente.

Viva a hegemonia da “verdinha”, viva a sociedade da máscara[6] vitalícia.



[0](c. 1132 - 1202) Abade cisterciense e filósofo místico italiano, defensor do milenarismo e do advento da idade do Espírito Santo

[1] Do francês, Sábio idiota.

[2] Do inglês, Alta tecnologia.

[3] Trecho da música “Inútil Paisagem”, de Tom Jobim

[4]Trecho da música “Terceira do Plural”, de Engenheiros do Hawaii

[5] Trecho da música “Pose”, de Engenheiros do Hawaii

[6]Música “Máscara”, Pitty